Quantos de nós crescemos a ouvir que “criança só aprende com porrada”?
Palmatória, chinelo, fio de corrente, cinta, palavras duras, tudo isso foi-nos apresentado como forma de “educar”. Mas, na verdade, era violência normalizada, passada de geração em geração como se fosse disciplina.
Em vez de aprendermos a dialogar, aprendemos a temer.
Em vez de sabermos comunicar o que sentimos, aprendemos a calar.
Este ciclo gerou adultos que confundem respeito com medo, liderança com autoritarismo e frustração com direito à agressão.
Os actos de vandalismo que recentemente abalaram Luanda não são apenas consequência da crise económica e social. São também o reflexo de uma sociedade que, durante muito tempo, ensinou a violência como principal forma de resolver conflitos no lar, na escola, no serviço, nas instituições.
Se uma criança apanha para obedecer, o que fará ela quando for contrariada na vida adulta?
Se nunca foi escutada, como saberá escutar?
Se nunca foi tratada com empatia, como poderá respeitar o outro?
A cultura da violência não desaparece com o tempo, ela adapta-se.
Hoje, vemos isso nas ruas, nas lojas saqueadas, no desespero que se transforma em raiva. Não é porque o povo é mau por natureza, mas porque foi assim que muitos aprenderam a reagir quando se sentem excluídos, humilhados ou abandonados.
Está na hora de olharmos para trás, não para culpar, mas para entender:
A mudança começa quando deixamos de educar com medo e começamos a formar com respeito e diálogo.
A infância deve ser espaço de afecto, e não de sobrevivência emocional.
Educar para a paz é mais difícil do que mandar obedecer com gritos. Mas é a única forma de construir um país onde o trauma não seja herdado como destino.
Waldano Natxari, Cientistas Educacional e da Saúde, Gestor, Especilista em Governação, Compliance e Humanização do atendimento